Disco: Play - Bobby McFerrin & Chick Corea

Hoje o assunto é bem diferente do Rock e do Heavy Metal que eu sempre falo. Vamos falar de quando dois prodígios do Jazz se juntaram para fazerem mágica musical: este é Play, de 1992.

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Estou tão feliz de ter retornado à minhas raízes musicais. Não que eu não me sentia feliz em fazer o que eu fazia no meu antigo blog, mas eu passava os olhos no que eu iria fazer em seguida, e via que a música sempre ia ficando um pouco de fora da pauta. Pois muito bom, hoje eu vou falar de JAZZ. Pois é. Também é um gênero musical que curto bastante, mas não acompanho com tanta frequência, estou sempre mais ligado em outras coisas. Dentro do Jazz, vamos fazer um recorte aqui em uma coisa que me marcou bastante. Conheça dois prodígios do estilo: o pianista Chick Corea e o cantor Bobby McFerrin.

Chick Corea é o mais velho desta parceria, nascido em 1941. Músico astuto e pianista excelente, ele tem um disco que considero clássico, o Now He Sings, Now He Sobs. Quem nunca ouviu, ouça, é Jazz Contemporâneo da veia, o tradicional Free Jazz mesmo, que os caras que compõem o Jazz Trio pegam uma base e improvisam em cima o tempo todo. O cara também já tocou com Stan Getz, Stanley Clarke, Miles Davis, Ron Carter e outros diamantes do gênero.

Quanto ao Bobby McFerrin, 9 anos mais novo, nascido em 1950. Sobretudo vocalista, mas também toca piano, baixo e faz percussão. Dele eu recomendo o álbum Spontaneous Inventions, que é um dínamo, ele esbagaça no vocal e toca junto de feras como Wayne Shorter e Herbie Hancock. O estilo dele é bem semelhante ao scat singing praticado por esmeraldas do Jazz, como Ella Fitzgerald, considerada a melhor no gênero de canto em sua época. Também já tocou com caras como Dizzy Gillespie, Al Jarreau, Gal Costa e voltou a se encontrar com o Chick Corea duas vezes: no álbum The Mozart Sessions de 1996 (com orquestra de câmara), e em uma apresentação registrada no disco Rendezvous in New York de 2003.

Agora, junte as habilidades assombrosas de um ao piano e os talentos assombrosos do outro ao vocal, e você tem um dueto sensacional! E com essas habilidades sensacionais, o que os dois fazem em palco? Exatamente o que o título do disco diz: tocam. De forma espontânea e apaixonada. E sem amarras com fórmulas, a coisa soa praticamente toda improvisada, em nenhum momento soa algo planejado nos mínimos detalhes. E é aí que a mágica acontece e faz desse encontro um dos mais incríveis do catálogo do selo Blue Note.

Já na primeira faixa, "Spain", uma composição do Corea, ele e Bobby já demonstram uma dinâmica excelente. Corea vai destilando seus arranjos ao piano e deixando Bobby fazer o que quiser com sua voz. Muitas vezes parece que Corea segue Bobby, mas também há espaço para o vice-versa. São 10 minutos de Jazz que você nem sequer vê passar. Bobby faz sua voz tremular, pular, alcançar notas agudas, graves, dá ritmo, enfim, o cara é um artista vocal.

Em "Even from Me", uma composição inédita de Corea e Bobby, o último demonstra toda sua habilidade em fazer ritmo com graves e manter refrões harmônicos e solos interessantes com a voz, enquanto Corea pinta e borda ao piano. O mais triste aqui é que não tem registro em vídeo, então você fica meio perdido sem saber do que exatamente a audiência está rindo, mas baseado nos registros raros de outras apresentações, a gente imagina que é pelo intenso carisma do Bobby.

E de repente lá está ele, apresentando o próximo número, "Autumn Leaves", uma Jazz standart muito bonita, mas conforme ele apresenta, você não sabe se o sujeito está falando ou cantando, ou talvez os dois ao mesmo tempo. Aí ele começa cantando daquela forma preguiçosa, mas quando você menos percebe, ele já está arrebentando no scat singing novamente, com aquele senso de humor característico que essa modalidade do Jazz carrega.

A próxima é um verdadeiro show! Trata-se de Ornette Coleman! Eu fiquei de queixo caído! Não sei se vocês imaginam do que estou falando, mas Ornette Coleman é um dos saxofonistas mais improvisacionistas que eu já vi! Tem muita coisa dele que eu ouço, mas não consigo seguir, é bem complicado, as variações são doidas demais! "Blues Connotation" talvez seja uma das menos complicadas dele, e ainda assim é impressionante! Bobby substitui o saxofone aqui pela sua dinâmica voz e faz você cair o queixo o quanto que o cara consegue acompanhar as variações ao piano do Corea! E ainda faz brincadeira no meio da coisa! Sério, é muito divertido! A ideia original do Coleman em si é divertida por si só, aquele jazzão quarteto dançante que pira sua cabeça, mas o que Bobby faz aqui é fora do comum!

Para relaxar, a dupla resolve fazer uma das mais bonitas composições do pianista Thelonious Monk, "Round Midnight", nessa, eles realmente pisam no freio e mantém a coisa a nível mais intimista. Mas para o número final, eles voltam com o scat singing frenético e os arranjos arrojados ao piano fazendo mais uma Jazz standart, "Blue Bossa". Mais curta, mas nessa, o Bobby encarna a Ella Fitzgerald uma hora, e arrepia até a nuca com seu solo vocal! Uma performance sensacional, finalizando uma apresentação realmente memorável!

Se alguém estiver procurando uma dica de qualquer outro estilo musical, ou até algo mais diferenciado dentro do estilo do Jazz, eu recomendo muito que ouça este disco do Chick Corea e do Bobby McFerrin. Foi uma reunião de dois feras do Jazz Contemporâneo que ficou marcada no tempo, e que me marcou muito desde a primeira vez que eu ouvi.

Play (1992)
(Bobby McFerrin & Chick Corea)

Tracklist:
01. Spain (Chick Corea)
02. Even from me
03. Autumn leaves (Joseph Kosma)
04. Blues connotation (Ornette Coleman)
05. Round midnight (Thelonious Monk)
06. Blue Bossa (Kenny Dorham)

Selo: Blue Note

Músicos:
Bobby McFerrin: voz
Chick Corea: piano

Discografias:

Bobby McFerrin:
- SpiritYouAll (2013)

- VOCAbuLarieS (2010)

- Rendezvous in New York (2003)

- Beyond Words (2002)

- CircleSongs (1997)

- The Mozart Sessions (with Chick Corea) (1996)

- Paper Music (1995)

- Bang!Zoom (1995)

- Hush (with Yo-Yo Ma) (1992)

- Play (with Chick Corea) (1992)

- Medicine Music (1990)

- Lady Fair (with Gary Wiggins) (1989)

- The Many Faces of Bird: The Music of Charlie Parker (with Richie Cole, Lee Konitz) (1987)

- Simple Pleasures (1988)

- How the Rhinoceros Got His Skin & How the Camel Got His Hump (1987)

- The Elephant's Child (1987)

- Spontaneous Inventions (1986)

- The Voice (1984)

- Bobby McFerrin (1982)

Chick Corea:
- Antidote (with The Spanish Heart Band) (2019)
- Chinese Butterfly (with Steve Gadd) (2018)
- Solo Piano – Portraits (2014)
- The Vigil (with Hadrien Feraud, Marcus Gilmore, Tim Garland and Charles Altura) (2013)
- The Continents: Concerto for Jazz Quintet & Chamber Orchestra (2012)
- Hot House (with Gary Burton) (2012)
- Further Explorations (with Eddie Gomez and Paul Motian) (2012)
- Orvieto (with Stefano Bollani) (2011)
- Duet (with Hiromi Uehara) (2009)
- Brooklyn, Paris to Clearwater (with Hadrien Feraud, Richie Barshay) (2007)
- The Boston Three Party (with Eddie Gomez, Airto Moreira) (2007)
- Chillin' in Chelan (with Christian McBride, Jeff Ballard) (2007)
- From Miles (with Eddie Gómez, Jack DeJohnette) (2007)
- Dr. Joe (with Antonio Sanchez, John Patitucci) (2007)
- The Enchantment (with Béla Fleck) (2007)
- The Ultimate Adventure (2006)
- Rhumba Flamenco (2005)
- To the Stars (with Elektric Band) (2004)
- Rendezvous in New York (2003)
- Past, Present & Futures (2001)
- Solo Piano: Standards (2000)
- Solo Piano: Originals (2000)
- Seabreeze (2000)
- Corea Concerto: Spain for Sextet & Orchestra – Piano Concerto No. 1 (with Origin) (1999)
- Change (with Origin) (1999)
- Like Minds (with Gary Burton, Pat Metheny, Roy Haynes, Dave Holland) (1998)
- Native Sense - The New Duets (with Gary Burton) (1997)
- Remembering Bud Powell (1997)
- From Nothing (1996)
- The Mozart Sessions (with Bobby McFerrin) (1996)
- Time Warp (1995)
- Expressions (1994)
- Elektric Band II: Paint the World (1993)
Play (with Bobby McFerrin) (1992)
- Alive (with Akoustic Band) (1991)
- Beneath the Mask (with Elektric Band) (1991)
- Inside Out (with Elektric Band) (1990)
- Chick Corea Akoustic Band (1989)
- Eye of the Beholder (with Elektric Band) (1988)
- Summer Night: Live (with Akoustic Band) (1987)
- Light Years (with Elektric Band) (1987)
- The Chick Corea Elektric Band (1986)
- Septet (1985)
- Voyage (with Steve Kujala) (1985)
- Children's Songs (1984)
- Fantasy for Two Pianos (with Friedrich Gulda) (1983)
- The Meeting (with Friedrich Gulda) (1983)
- On Two Pianos (with Nicolas Economou) (1983)
- Lyric Suite for Sextet (with Gary Burton) (1983)
- Again and Again (1983)
- Touchstone (1982)
- Trio Music (1982)
- Three Quartets (1981)
- Chick Corea Featuring Lionel Hampton (1980)
- Greatest Hits of 1790 (with Philharmonia Virtuosi of New York) (1980)
- Tap Step (1980)
- Delphi II & III (1980)
- Delphi I (1979)
- Duet (with Gary Burton) (1979)
- Friends (1978)
- Secret Agent (1978)
- The Mad Hatter (1978)
- Circulus (featuring Circle) (1978)
- My Spanish Heart (1976)
- The Leprechaun (1976)
- Circling In (featuring Circle) (1975)
- Crystal Silence (with Gary Burton) (1973)
- Return to Forever (1972)
- Piano Improvisations Vol. 2 (1972)
- Piano Improvisations Vol. 1 (1971)
- A.R.C. (with Dave Holland and Barry Altschul) (1971)
- The Song of Singing (1970)
- Sundance (1972)
- Is (1969)
- Now He Sings, Now He Sobs (1968)
- Tones for Joan's Bones (1968)


























































































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- Chick Corea
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